segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Puta ama?

Eu a conheci na “fila da morte”, onde os pacientes de cancêr terminal esperavam, consultas, resultados, a cura, a morte. Entre minhas visitas ao hospital acabei me familiarizando com alguns pacientes e suas conversas sobre remédios, dores, colegas que voltaram para o fim da fila e os que foram para o fim. Era mais calada, estava sempre só e tinha o ar de pessoa vulgar. Um dia, na solidão das filas, comecei a conversar com ela, uma amizade brotou, falavamos sobre a vida. Gostava da sua companhia, me sentia longe da doença. Me contou que era puta, dos seu amores. Conservadora, me questionei: Puta ama? Como se lesse meus pensamentos, disse que puta amava sim, que o amor vem para todos, assim como a morte. Disse que foi amada por muitos, mas que seu amor foi por um homem que nunca a desejou. Ele a pagava para conversar, para não se sentir só, tinha muitas mulheres, muitos conhecidos, poucos amigos, uma pessoa só. Sentia falta dele quando não aparecia, para ela era amor aquele encontro de solidões. Sexo tinha com muitos, afeto somente com ele. Um dia ele não voltou mais. Agora ela esperava a última solidão.

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