segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Puta ama?

Eu a conheci na “fila da morte”, onde os pacientes de cancêr terminal esperavam, consultas, resultados, a cura, a morte. Entre minhas visitas ao hospital acabei me familiarizando com alguns pacientes e suas conversas sobre remédios, dores, colegas que voltaram para o fim da fila e os que foram para o fim. Era mais calada, estava sempre só e tinha o ar de pessoa vulgar. Um dia, na solidão das filas, comecei a conversar com ela, uma amizade brotou, falavamos sobre a vida. Gostava da sua companhia, me sentia longe da doença. Me contou que era puta, dos seu amores. Conservadora, me questionei: Puta ama? Como se lesse meus pensamentos, disse que puta amava sim, que o amor vem para todos, assim como a morte. Disse que foi amada por muitos, mas que seu amor foi por um homem que nunca a desejou. Ele a pagava para conversar, para não se sentir só, tinha muitas mulheres, muitos conhecidos, poucos amigos, uma pessoa só. Sentia falta dele quando não aparecia, para ela era amor aquele encontro de solidões. Sexo tinha com muitos, afeto somente com ele. Um dia ele não voltou mais. Agora ela esperava a última solidão.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Não é a máquiagem pesada. Muito menos os decotes, as calças justas ou as saias curtas. Os cabelos pinatdos de loiro, os dedo cheios de anéis. Nem os braços e pescoços cheios de pulseiras e colares que tilintam ao caminhar. Ou o brilho ofuscante do ouro, dos diamantes, da pedras falsas. E as unhas grandes e pintadas, também não. O perfume doce forte, muito menos.
Esses clichês baratos, nada disso faz de nenhuma mulher, uma mulher de verdade. Não sou mulher por usar nada disso e nem deixo de ser por não usar. Tudo não passa de máscaras da segurança que não existe. A femildade é algo muito além dos badulaques. E o homem que busca isso, não busca uma mulher e sim quinquilharias baratas. E a mulher que acredita que para ser mulher precisa obecer esses protocolos, nunca foi mulher de verdade.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

E assim se chamava...

Oi, meu nome é Covardia. Meu nome é um adjetivo, o que faz todos os demais desnecessários para me definir. Entendendo isso, é fácil me compreender, não existem teorias complexas.
A minha vida é assim, vivida ao meio, como a de todos os covardes. O meu mundo das idéias difere bastante do universo das minhas ações. O que penso não falo, não faço. Fica tudo sempre no potencial.
A coragem, minha irmã, é um ente que pouco aparece. Ela chega sorrateira, sua companhia é envolvente entusiasmante, mas ela parte tão depressa, sem despedidas e ai me vejo só, Covardia.
Covarde, sim, em tudo. Acordo e durmo covarde. Uma vida de quase. A minha mentira favorita é a de que é bom guardar a possibilidade de histórias que poderiam ser felizes, sem ter que enfrentar a dor, o desamor, o não e o sim. É isso, não consigo continuar, empaco, me fecho, me tranco. A desculpa dos carregam esse nome é a sensatez.
Eu sou a menina que depois de escrever uma carta de amor à um vizinho, se esconde toda vez que ele vem procurar por ela. Até chegar ao cúmulo de se trancar no armário quando ele entra casa adentro querendo falar com ela. Eu começo a ser quem eu sou aos 7, 8 anos.
Tempos depois arrumei um subterfúgio excelente para a solidão: Os namorados que moravam longe, que apareciam de tempos em tempos. Uma excelente desculpa aos pretendentes mais próximos. De onde mais longe fosse, quanto menos tempo fosse permanecer por perto, mais interessante ele parecia. Ai sim conseguia ser corajosa.
O meu maior problema era os que queriam reencontros, que me convidavam à visitas. E o pânico, o desespero de ser Covarde me batiam com uma violência voraz. Desculpas, explicava que um novo encontro seria demasiadamente doloroso na hora de retornar. Foi tão bom, não vamos prologar isso com choramingo de uma nova despedida.
Até que um dia a vida colocou um ser que conviveu comigo durante anos. Não tinha como fugir, não tinha desculpas. Não foi tanto coragem que fez essa história durar um pouco mais, ele estava ali dia após dia. Até o dia em que o fim veio nos visitar e ele que também tinha Covardia em seu nome, prolongou esse final comigo. A falta de coragem de acabar o que foi tão difícil começar.
E novas histórias surgem, novos personagens distantes, novos fins abruptos. Seguindo autênticamente covarde, até deparar-me comigo, com medo, minha fuga. Ninguém mais é convidado a entrar no mundo dos covardes. A coragem só aparece para acabar, não para continuar. O pavor é rei por aqui. Sigo polindo a minha solidão, tentando mantê-la intacta, para que ela possa me consumir nas noites sem sono.

domingo, 6 de dezembro de 2009

...

Preciso ficar só hoje. Necessito de silêncios intermináveis, das palavras não ditas, da solidão. Quero a porta fechada, cortinas baixas, páginas em branco. Não quero telefonemas, que venha a quietude, só o barulho da chuva. Sem respostas, que esperem os amigos saudosos, o cinema, o bar, as conversas longas, as frases curtas. Quem precisa de palavras ditas? Não diga nada hoje, me deixe aqui, quero acreditar em nada. Só esse dia, é tudo o que peço para mim.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Os imbecis

Eles dominam o mundo e com sua fala inacabável, calam a todos, silenciam a voz das mentes pensantes. Os que não conseguem calar, usam a voz para abafar o silêncio do vácuo de suas e mentes e quando conseguem um par para despejar seus dejetos vernáculares, realizam trocas de nada com nada, seguindo isso por dias, pela vida. Pobres eles, mal sabem, que o nada que dizem nunca é ouvido, que seus alvos não vegetantes estão tão longe, perdidos, tentando entender o pensamento dos homens calados.

Era, mas não mais

Ás vezes, você acorda, olha pro mundo e ele não olha de volta para você. Talvez, nunca tenho olhado, tolo você, que deixou-se cair nessa armadilha, na anedota do elogio. Agora, acorda esbaforido, porque viu a realidade. O que era real e estava tão alcance, a cegueira do absurdo encobria, agora é passado e tão longe, inalcansável.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Muito pouco, quase nada

Desculpa, mas ultimamente ando muito humana. Tomo cada pecado como um quinhão do que sou feita. Não tenho tentado ser muito, nobre ou grande. Assumi meu lado vil, tenho visto a vida sob a carne e o osso.
Deixo a nobreza e inocência para você, preciso ser sincera de alguma forma e assumir que minha libertinagem faz parte disso. É que eu preciso ir ao limite de tudo. Não da pra ficar na superfície.
Você precisa entender que preciso de pontos finais claros. Não adianta você dizer algo se seus olhos mentem. Se você quer o fim, não me olhe com esses olhos de desejo. Essa maldita superioridde de carácter. Assumo minha crueldade, minha sujeira. Mas você, que se faz tão nobre, mente na lascividade. Aceito sua mentira, afinal, ela é sua. E passo a vagar com minha vergonha, muito honesta, mas sufocante.