quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

E assim se chamava...

Oi, meu nome é Covardia. Meu nome é um adjetivo, o que faz todos os demais desnecessários para me definir. Entendendo isso, é fácil me compreender, não existem teorias complexas.
A minha vida é assim, vivida ao meio, como a de todos os covardes. O meu mundo das idéias difere bastante do universo das minhas ações. O que penso não falo, não faço. Fica tudo sempre no potencial.
A coragem, minha irmã, é um ente que pouco aparece. Ela chega sorrateira, sua companhia é envolvente entusiasmante, mas ela parte tão depressa, sem despedidas e ai me vejo só, Covardia.
Covarde, sim, em tudo. Acordo e durmo covarde. Uma vida de quase. A minha mentira favorita é a de que é bom guardar a possibilidade de histórias que poderiam ser felizes, sem ter que enfrentar a dor, o desamor, o não e o sim. É isso, não consigo continuar, empaco, me fecho, me tranco. A desculpa dos carregam esse nome é a sensatez.
Eu sou a menina que depois de escrever uma carta de amor à um vizinho, se esconde toda vez que ele vem procurar por ela. Até chegar ao cúmulo de se trancar no armário quando ele entra casa adentro querendo falar com ela. Eu começo a ser quem eu sou aos 7, 8 anos.
Tempos depois arrumei um subterfúgio excelente para a solidão: Os namorados que moravam longe, que apareciam de tempos em tempos. Uma excelente desculpa aos pretendentes mais próximos. De onde mais longe fosse, quanto menos tempo fosse permanecer por perto, mais interessante ele parecia. Ai sim conseguia ser corajosa.
O meu maior problema era os que queriam reencontros, que me convidavam à visitas. E o pânico, o desespero de ser Covarde me batiam com uma violência voraz. Desculpas, explicava que um novo encontro seria demasiadamente doloroso na hora de retornar. Foi tão bom, não vamos prologar isso com choramingo de uma nova despedida.
Até que um dia a vida colocou um ser que conviveu comigo durante anos. Não tinha como fugir, não tinha desculpas. Não foi tanto coragem que fez essa história durar um pouco mais, ele estava ali dia após dia. Até o dia em que o fim veio nos visitar e ele que também tinha Covardia em seu nome, prolongou esse final comigo. A falta de coragem de acabar o que foi tão difícil começar.
E novas histórias surgem, novos personagens distantes, novos fins abruptos. Seguindo autênticamente covarde, até deparar-me comigo, com medo, minha fuga. Ninguém mais é convidado a entrar no mundo dos covardes. A coragem só aparece para acabar, não para continuar. O pavor é rei por aqui. Sigo polindo a minha solidão, tentando mantê-la intacta, para que ela possa me consumir nas noites sem sono.

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